O difícil é enfrentar o erro de não se previnir

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Felicidade por caminhos tortuosos

Nestes dias em que estou em casa, tive muito tempo para pensar em quase tudo da vida. Em como cheguei até aqui, as escolhas que eu fiz, os erros que eu cometi... Como não planejar o improvável...

Pode até parecer uma ironia ou uma coisa doida para falar. Fato é que o câncer só me trouxe alegrias. Verdade! Apesar da dor emocional e física, superáveis pelo tempo, só tive felicidades nestes últimos meses.

Quando resolvi abrir minha condição, tentar ajudar quem precisava de "um empurranzinho" para fazer exames e dividir com meus amigos o que estava acontecendo, não imaginava quanto de "tudo de bom" eu teria de volta.

Todas as vezes que leio os comentários em meus posts no Facebook ou quando vejo quantos acessos o blog teve, fico radiante de felicidade! A melhor coisa que poderia ter me acontecido era ficar doente, para sentir a rede de solidariedade, a corrente de orações e pensamentos positivos que eu tenho. Sou privilegiada por ter tantos e tantos amigos queridos!

Além disso, quantas e quantas pessoas queridas estiveram na minha casa para me ver? Reencontros de quase 10, 20 anos! Colégio, faculdade, trabalho! Não faltaram flores, bombons, livros! Que felicidade maior pode existir? Tudo fica pequeno demais diante de tanta amizade!

Uma palavra, um abraço, um consolo, um carinho! De todos os lados... Faz muita diferença para que esta com um problema tão sério.

É um incentivo para levantar da cama e encarar a realidade. Passar as etapas do tratamento com fé. Reforça o foco na cura, na perseverança e na certeza de que tudo vai passar e que vai virar uma história muito bacana de amor ao próximo e amizade! 

Posso, com certeza e propriedade, dizer que eu recebi todo este carinho, que fez com que eu passasse todos estes 52 dias acreditando, sempre, que tudo irá acabar bem. E desta forma, estou me preparando para a segunda fase: o tratamento. E, estou mais segura, mais confiante. 

Sou agradecida. Sempre serei. E assim é que é. Ninguém vive sozinho. A melhor coisa da vida são os amigos e nossa família. Obrigada, meu Deus! Muito obrigada! Eu sou feliz! Eu tenho amigos verdadeiros! Amém!




segunda-feira, 21 de julho de 2014

Sua Mastologista vira sua melhor amiga!

Já estive por três vezes na Dra. Gisela Andreoni, minha mastologista e agora, minha melhor amiga também! Espécie de "Amiga do Peito"... rsrsrsrs.

Quando fui encaminhada para o Pérola Byington, pela minha ginecologista, a "anja" Patrícia, tive minha primeira consulta com uma outra equipe e, confesso, tinha idade para ser mãe de muitos dos médicos ali. Não que eu esteja muito velha e não que eu não tivesse confiança nesta turma. Fato é que preferi ouvir uma outra opinião.

Tive a indicação da Dra. Gisela e soube que ela também era do Pérola. Mas, no dia da minha consulta, não era o dia de seu atendimento. Consegui, então, o contato de seu consultório e liguei para lá. Contei minha história para a atendente e consegui um encaixe para uma consulta antes da cirurgia, que seria dia 31 de julho.

Foi a melhor coisa que fiz! Tivemos uma conversa aberta, onde pude perguntar tudo e mais um pouco. Seria, então, operada por ela! Graças, Senhor!  Saí de seu consultório com minha cirurgia antecipada e bem mais tranquila... Este foi nosso primeiro contato.

Da segunda vez que fui lá, recém-operada (sexta-feira, dia 18), fui com a Tate (mais uma vez lá estava ela!). Meu tio Léo nos levou. Foi a retirada do dreno e punção do seio operado.

Hoje foi a terceira vez. E, juro, foi muito, muito bom! Mas, como sempre, mentira tem pernas curtas... Curtíssimas...

Resolvi ir de carro... Sozinha... Direção hidráulica, automático... Carro de pai, né? Que acabou ficando comigo... Ninguém precisava saber, muito menos ela... Enfim, resolvi dirigir hoje. Estava me sentindo super bem. E como teve valor para mim!!!! Como a vida é boa! 

Dirigi meio quarteirão e senti o carro pesado... Parei no farol e olhei: PNEU FURADO... Socorro! Como assim? Atrasada e com o pneu furado.

Mais uma vez, o Marco, me tirando das encrencas, disse para eu ver o pneu ANTES de ir. Feito!

Cheguei no consultório e já fui me desculpando: "- Dra., desculpe o atraso! Furou o pneu do carro...". A desculpa mais "esfarrapada" do planeta, usada por quase 100% das criaturas quando não se tem uma melhor, me enterrou... Ato falho...

Para minha surpresa, a Dra. Gisela soltou uma gargalhada e me disse: "- Juro que eu acredito! E, pelamordedeus!!!! O que vc estava fazendo dirigindo?". Depois de muita negociação, consegui a autorização dela para voltar a guiar! Graças, Senhor!

Esta foi a mais complicada das consultas. Estou usando um sutiã próprio para a cirurgia e tenho tomado muito cuidado com o meu seio. E não dei muita importância para o meu braço. Inchado e dolorido. O sutiã machucou o local da cirurgia para a retirada do linfonodo... Uma inflamação daquelas...

Conclusão: 02 antibióticos, 01 antiinflamatório e duas "almofadas" (gazes) embaixo do braço... Mais parecem fraldas...

Além disso, teve o chilique... Lógico! Outra punção no seio. Dá até vergonha... Fico APAVORADA!!!! Depois de tantos " - Já acabou, Dra.? Já acabou? Hein? Já acabou?", ouvi "Patrícia, que chilique todo é esse? Com cinco tatuagens pelo corpo, você está surtando por causa de uma agulhinha?????". É... É como eu costumo dizer: os fins justificam os meios... Nem lembro das minhas tatuagens... Mas, das punções... Destas eu não vou me esquecer nunca. Rimos muito e deixei ela terminar o troço...

Agora, preciso cuidar do meu braço, para que ele não doa e desinche. Normal inchar, ela disse... Mexeu, né?

O mais importante de tudo isso é ter um(a) mastologista bacana, competente e que transmita segurança. E não é só pelo monte de diplomas, etc. É pela disposição em te dar o número do celular e dizer para você: "- Não tenha medo! Qualquer coisa, por menor que pareça ser, ligue!". Gente que gosta do que faz e entende o medo do diagnóstico de câncer...


O que aconteceu naquela mesa...

Obviamente, na visão dos médicos, minha cirurgia foi simples... Porque, como diria minha amada mãe, "pimenta nos olhos dos outros é refresco"...

Eu sofri uma setorectomia/ quadrantectomia com retirada do linfonodo Sentinela (uma espécie de porteiro, cão de guarda, uma coisa assim, que mora debaixo do braço).

A setorectomia/quadrantectomia é a retirada de parte da mama, onde o tumor está localizado (o saquinho plástico da enfermeira tosca do post anterior). Todo este tecido é retirado, com margem de segurança, para ser avaliado no chamado exame histopatológico (para nós, leigos, uma espécie de biópsia). Esta retirada pode variar entre 25% e 40% de tecido mamário total.  

O linfonodo Sentinela (adorei este nome!) é o primeiro linfonodo (gânglio linfático) a receber as células malignas. É a primeira barreira de defesa do organismo contra o espalhamento do câncer (metástases). Dará o prognóstico e direcionará qual o tratamento que deverei fazer. Vai dizer se existe metástase ou não. 

Traduzindo: Ficou uma coisa bem esquisita... todo torto e, depois de desinchar e voltar para a cor normal (agora está meio roxo, meio amarelo, meio verde, meio preto), meu seio direito vai ficar mais murcho e mais alto que o esquerdo, com uma cicatriz que nem imagino como será... Cruzes!!!! Vai merecer uma boa plástica. 

Além disso, tiraram um troço debaixo do meu braço que faz com que ele me dê choques e doa muito... 

Fora o buraco onde estava a merda do dreno pendurado.

Mas, tudo o que estava errado saiu... Graças a Deus!!!! Agora, tenho que esperar umas três semanas para que o tratamento seja definido, a partir do resultado da biópsia deste tecido e do linfonodo. Se vou de quimio e rádio. Se só rádio... Enfim, a próxima fase.

Mas, quer saber? Não me preocupa mais. Tenho tanta certeza de que tudo estará bem, que venha o que vier! Eu quero é ficar livre!

A vida como ela é...

Que saudades de escrever no meu bloguinhoooooo!!!!!!!

Bom, hoje já estou em casa. Mas, que viagem louca esta da cirurgia! Pai do Céu!

Apesar de tudo o que vou relatar, agradeço aos Céus a chance de me tratar num hospital público. Agradeço aos meus "anjos da guarda" terrenos, não terrenos, a Deus, aos amigos... Agradeço todo mundo. E a você que está lendo também! Eu sou agradecida pela oportunidade. Serei sempre!!!!

Fui internada na terça-feira, dia 16 de julho. Meu irmão e minha cunhada foram comigo. Chegamos uma hora da tarde e só fui conseguir ser atendida às cinco... Quatro horas de espera, para o desespero do meu irmão... Aflição da minha cunhada... e minha dor de barriga!!!!

Quando fui liberada, me juntei a um grupo de mulheres e subimos ao nono andar do Pérola Byington, com a enfermeira/ atendente/ ascensorista/ recepcionista (jamais vou saber qual a função dela lá). Recebi uma pulseirinha destas de hospital, de plástico com o meu nome escrito em caneta esferográfica e um "kit" internação: uma camisolinha rosa cirúrgica, dois lençóis, uma fronha e um cobertozinho... (quase perguntei se precisava colocar meus dedos na tinta para tirar as impressões digitais - que pecado falar isso!). Meu número era 910-B - cama do meio (acho que vou jogar no bicho amanhã...). 

Cumprimentei minhas novas amigas e já fui arrumando minha cama. Lembrei que, quando meu irmão chegou em casa para me buscar, perguntou " - Vai acampar?". Eu estava de tênis, moleton, camiseta e minha inseparável mochila, que deve ter uns 10 anos...

Era assim que eu me sentia, num acampamento. Para quem me conhece sabe, sou cheia de frescuras com banheiro. Quando vou para algum lugar, sempre pergunto "Tem box no banheiro ou eu vou ter que puxar a água com rodo?. Por que se tiver que puxar a água com rodo, nem vou...". Cruzes! Quanta frescura.

Falo isso porque a primeira coisa que fui investigar foi o banheiro. SEM BOX... Caiu minha ficha... Nem era por causa do box. Era a coisa toda... O povo sofre. Sofre mesmo... Que precariedade este sistema de saúde...

Devidamente instaladas, nós três ficamos trocando informações sobre nossas mazelas e assistindo novelas... Logo veio o jantar e duas bolinhas azuis para cada uma de nós... Nem me lembro o que comi e muito menos da novela daquela noite... Dois DIAZEPANS... Dormi feito criança.

Na quarta-feira, 6 horas da manhã, uma delicada enfermeira entrou no quarto batendo palmas, acendeu a luz na nossa cara e gritou "- Vamos acordar! Vamos acordar! Aqui está a toalha de banho... Organizem uma fila e tomem banho para a cirurgia...". Virou as costas e saiu. Mais do que depressa, obedeci e já corri para o chuveiro. Vesti a camisola da cirurgia e fiquei lá, esperando... Em jejum... Até às nove horas da  manhã, quando alguém se lembrou de mim e me levou para fazer o último exame - AGULHAMENTO - para demarcar o local da cirurgia. Nem vou contar como foi, porque senão, sou capaz de grudar no teto de novo, de tão medonho que é isso...

Às dez horas, fui levada, a pé mesmo, para o Centro Cirúrgico, onde encontrei minha amada mastologista - Dra. Gisela Andreoni - mais um anjo na minha vida. Que mulher! Que competência! Daí sim, me senti segura e com medo. É... Medo... Até então, eu estava APAVORADA...

Deitei na maca, rezei, chamei a minha mãe para ficar ali do meu lado e dormi. Anestesia delícia... "Seja o que Deus quiser. Senhor, estou em suas mãos...", eu pensei... E foi... Acordei e tudo tinha acabado. Voltei logo, graças a Deus! Deu tudo certo e não tive nenhum problema. A não ser uma enfermeira tosca, no Centro Cirúrgico ainda, comigo na maca, que balançou um saquinho de plástico transparente, com mais ou menos meio quilo de carne moída, e disse para mim (justo para mim!!!!!!) "- Olha só o que saiu de você!". Cruzes! Que horror!!!! Desmaiei... Acordei na Sala de Recuperação.

Sou assim mesmo, odeio estas coisas... Uma vez, meu irmão cortou o dedo, preparando um churrasco em Itatiba, desmaiou... E eu, muito corajosa, fui tentar ajudar também e corri... Para desmaiar no sofá, que era mais macio... Lembro até hoje do som das gargalhadas da minha mãe.

Quando voltei para o nosso "alojamento", vi o enorme sorriso da minha tia Regina, a Tate querida, me esperando ali, aflita e, para variar, com o berreiro aberto. Ah! Tate! Obrigada, querida! Aquele conforto foi tudo o que eu precisava. 

O mais legal de tudo, é que a Tate embarcou total nesta viagem louca comigo. Quando me dei conta, ela estava cuidando das três, ali naquele quarto. Levantando e abaixando cabeceiras de cama, cobrindo minhas "colegas", servindo água! Ah! Tate! Nunca poderei agradecer o tanto que você fez e faz por mim! Te amo!

Impressionante como eu me sentia bem. Conversei, sentei, comi, tolerei aquela merda de dreno pendurado embaixo do braço... Até aí estava tudo certo. À noite a Dra. Gisela foi me ver, disse que tudo estava bem e eu dormi...

Quinta-feira, bem no dia da alta, acordei mal... Com tonturas e enjoos. Pedi um remédio que estou acostumada a tomar para labirintite e o hospital não tinha. Plasil e Dramin não resolvem... Entrei no maior desespero. Queria ir embora dali... Já deu... Não aguentava mais... Muito sofrimento, gente! 

Mas, de repente, quem chegou para me buscar? A Tate! Lá estava ela de novo para aliviar minha aflição. Com os olhos cheios de lágrimas. Ah! Como adoro esta mulher!!!!!!

Ligamos para o Marco, meu companheiro, sempre pronto para me tirar das encrencas que me meto, que fez chegar até mim meu comprimidinho de Meclin. Delícia. 

Não fosse uma mastologista residente entrar no quarto e tirar todos os meus curativos, eu teria levantado e ido embora. Mas, eu sou fraca para determinadas coisas. Aquilo me deixou tão impressionada que não tive forças, naquele momento, para sair da cama... Cruzes!!!! O dreno estava pendurado num buraco entre meu "sovaco" e minha cintura. Que que era aquilo, Pai do Céu!!!!!!!

Depois de umas duas horas, já recuperada e morrendo de vontade de sair correndo dali, resolvi acordar, levantar, tomar banho, arrumar o meu acampamento e voltar para casa. 

Enquanto eu fazia tudo isso, a Tate passeava de elevador entre a administração, enfermaria e farmácia, para me liberar de lá.

Tudo em mãos, pegamos um táxi e viemos aqui para a minha casa, Graças a Deus, sãs e salvas. E eu, apesar de todas as dificuldades que enfrentei, agradeço ter recebido a chance de me tratar no Pérola Byington, que luta para se manter e receber mulheres que, assim como eu, precisam utilizar o SUS como forma de tratamento e chance de sobreviver ao Câncer...

Ah! O dedo do meu irmão sarou e está ótimo! Obrigada! hehehehe


domingo, 13 de julho de 2014

Desta vez, você não me pega!!!!!!!

Acho que está é a última vez que escrevo antes da minha cirurgia... Amanhã tenho um monte de coisas para fazer... E, como me conheço, vou estar tão nervosa que não vou conseguir me concentrar.

Minha internação é dia 15, terça-feira, às duas horas da tarde. Milhões de coisas passam na minha cabeça. Como vai ser? O que será que tem lá dentro de mim? E a cicatriz? E o pós-operatório? Será que vou fazer quimio e ficar careca? Será? Será? Será?

Uma coisa que eu tenho comigo cada vez mais forte: o câncer veio para mim com uma bagagem boa. Ironia... Mas, é verdade... E se veio desta maneira, que eu aproveite esta experiência para me tornar uma pessoa melhor.

Até a volta! Vamos lá... Para a faca! Até!

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Reta Final

Estou na reta final desta aventura louca, desgastante, sofrida e de muita espera.

Graças a Deus, não me faltaram amigos e "anjos da guarda". Depois de mais de um mês de espera, saio com um saldo de 3 vagas em hospitais públicos, vindas de amigos e amigas que fizeram o impossível para me ajudar. Não sei se conseguirei agradecer à altura... 

Nas últimas semanas, fui ao inferno e ao paraíso várias vezes... Ouvi diagnósticos, opiniões, palpites... 

Ao SUS, minha sincera decepção... Não é à toa que os "tais" vão ao Hospital Sírio Libanês... Eu tive muita sorte e ajuda. Cheguei ao hospital público através de ajuda de amigos e médicos.

Só pelo SUS, demoraria meses para ter acesso a um tratamento. Filas enormes, falta de educação e respeito. E, principalmente, falta de amor ao próximo. Estou indignada pela forma como somos tratadas. Com raríssimas exceções, o povo que trabalha para o SUS é de uma intolerância de dar dó...

Consegui a confirmação da minha cirurgia, no Hospital Pérola Byington. Será dia 16 (quarta-feira), com internação dia 15 e alta dia 17.

Neste momento, escrevendo para o blog, estou sentada na espera do Hospital, para minha terceira mamografia... Cheguei às 10 horas, com previsão de duas horas para ser atendida... Paciência...

Olho para todas estas mulheres (52) que, assim como eu, estão esperando seus exames, controles e resultados e, mais uma vez, fico horrorizada com o descaso dos atendentes.

Não vou discutir política aqui. Esta não é a finalidade. Mas, que é o cúmulo do absurdo, é!!!! Quanto sofrimento...

E eu, vou me preparando psicologicamente... E torcendo para o dia da minha alta chegar...